quarta-feira, 25 de maio de 2016

RESENHA: Entrevista com o Vampiro


Título Original: Interview with the Vampire
Autor (a): Anne Rice
Ano: 1976
Editora: Rocco
Páginas: 334

   Entrevista com o Vampiro é o primeiro volume da série As Crônicas Vampirescas, que atualmente conta com 11 volumes lançados, sendo o último lançamento o livro Príncipe Lestat em 2014. Existe também uma outra série chamada Novos Contos Vampirescos, que conta com dois volumes, Pandora (1998) e Vittorio, O Vampiro (1999).
   O livro inicia-se com Louis contando sua história para um jovem repórter acostumado a entrevistar pessoas comuns sobre suas vidas. Louis, depois de anos de reclusão e solidão, decide aproveitar essa oportunidade para expor a verdade sobre sua trajetória vampiresca. Esse início pode ser um pouco maçante, já que os primeiros diálogos entre Louis e o repórter não são de muita profundidade, mas assim que a narrativa se volta aos anos mortais de Louis, é garantido que todo leitor se envolverá.
   Enquanto mortal, Louis de Pointe du Lac foi um jovem fazendeiro do sul do estado da Louisiana e de origem francesa. Após perder o pai, ele passa a tomar conta da propriedade da família. Uma diferença em relação ao filme de 1994, é que o que deixa Louis em total desespero e estado de lamúria, entregue ao álcool e aos prazeres mundanos, é a morte acidental de seu irmão mais novo e não de sua esposa, o que o deixa sentindo-se culpado pois a morte do caçula dá-se após uma discussão entre os dois.
   É nessa fase que Lestat aparece, quando Louis está entregue à todos os perigos, e faz a sua oferta em transformá-lo.

"Encarava o fato de me tornar vampiro sob dois aspectos: o primeiro era mero encanto. Lestat me conquistou em meu leito de morte. Mas o outro aspecto era meu próprio desejo de autodestruição. Ansiava por ser intensamente amaldiçoado. Foi por esta porta que Lestat penetrou, em ambas as ocasiões."

   Lestat é um vampiro rebelde, acostumado a agir por impulso, interesseiro nas posses de Louis e completamente frio em relação às vidas humanas que tira. Já Louis torna-se um vampiro melancólico, permanentemente atormentado com sentimentos de culpa e moralidade em relação às suas vítimas, que passa a se alimentar de ratos e animais de estimação para poupar as vidas humanas. Por esse motivo os conflitos em os dois são constantes e após Louis incendiar propositalmente sua casa de fazenda, ambos partem para Nova Orleans.

"Para ele, ser um vampiro significava vingança. Vingança contra a própria vida. Cada vez que acabava com uma vida estava se vingando. Não era estranho que não apreciasse nada. Nem podia perceber as nuances da existência como vampiro, pois só se preocupava com uma vingança maníaca contra a vida mortal que tinha abandonado. Cheio de ódio, ele olhava para trás. Cheio de inveja, nada o agradava, a não ser o que podia tirar dos outros. E ao obtê-lo, ficava ainda mais frio e insatisfeito, sem conseguir apreciar a coisa em si, tendo que sair em busca de algo mais. Vingança, cega, estéril e desprezível." (Louis sobre Lestat)

   Um ponto alto dos livros de Anne Rice são suas descrições sobre os locais, sejam casas ou cidades. Ela consegue nos transportar facilmente para a época e seus costumes. 
   Em uma noite, Lestat segue a trilha de ratos mortos deixados por Louis em sua caçada e o descobre encantado por uma criança órfã que perdera a mãe para a praga e encontra-se sozinha em um casebre, abraçada ao corpo da defunta. Na intenção de prender Louis à si e tentar dar a ele algum objetivo ou algo que desperte o seu amor para a vida de vampiro, Lestat transforma essa criança. Ela se chama Claudia.
   Claudia, na minha opinião, é um dos personagens mais interessantes de Anne Rice. É uma garotinha de aproximadamente 5 anos, que por ter se tornado vampira jamais crescerá, porém com os anos sua mente amadurece e ela torna-se uma adulta presa eternamente a um corpo de menina. Isso a deixa revoltada e faz com sinta inveja do corpo feminino adulto, além de matar suas vítimas com a mesma frieza e brutalidade de Lestat e repudiar a alimentação de Louis e seu jeito melancólico, embora a mesma esconda em sua atitudes a tristeza e raiva que sente por sua condição.



   A partir dessa transformação de Claudia é que os grandes acontecimentos da narrativa começam. Intrigas, rejeição, assassinato, fugas e vampiros do Velho Mundo. Em um momento do livro, os personagens estão vivendo em Paris, onde além de nos deliciarmos mais uma vez com as descrições da autora, conhecemos O Teatro dos Vampiros e mais um personagem importantíssimo que estará presente em todos os livros d'As Crônicas Vampirescas seguintes, Armand.
   
"O mal é um ponto de vista. (...) Deus mata, assim como nós; indiscriminadamente. Ele toma o mais rico e o mais pobre, assim como nós; pois nenhuma criatura sob os céus é como nós, nenhuma se parece tanto com Ele quanto nós mesmos, anjos negros não confinados aos parcos limites do inferno, mas perambulando por Sua terra e por todos os Seus reinos."

   

   A adaptação cinematográfica foi dirigida por Neil Jordan e teve Brad Pitt como Louis, Tom Cruise como Lestat e Kirsten Dunst interpretando Claudia. A autora participou diretamente da produção. Atualmente, notícias confirmaram que uma regravação será lançada e é possível que Jared Leto interprete Lestat. Até o momento, as notícias são de que Josh Boone (diretor de A Culpa é das Estrelas) estará na direção. Quanto a isso prefiro não dar a minha opinião, só um breve comentário de que um filme maravilhoso e de certa forma recente como esse não precisa de remake.

Edição de 1992
Lestat tatuado por Fábio Manson (João Pessoa/PB) em janeiro de 2015

quarta-feira, 11 de maio de 2016

RESENHA: O Circo Mecânico Tresaulti

                        


Título Original: Mechanique: A Tale of the Circus Tresaulti
Autor (a): Genevieve Valentine
Ano: 2016
Editora: Darkside Books
Páginas: 320

"Havia sempre lágrimas de alegria; um homem tão lindamente unido com uma máquina era algo que as pessoas precisam ver depois de uma guerra como a qual haviam passado. A tecnologia naquela época era armas e sinais de rádio; as pessoas precisam lembrar-se da arte da máquina." (pág. 20) 


    O Circo Mecânico Tresaulti é um livro de fantasia com elementos que caracterizam a distopia por se ambientar em um mundo pós-guerra. Os sobreviventes vivem em cidades massacradas e destruídas, sob comando de governos despreparados onde em sua maioria só estão no poder por terem resistido por mais tempo. 

   A primeira edição foi lançada em 2013, essa que estou lhes apresentando é uma edição limitada lançada esse ano. O livro conta com muitas ilustrações que, embora talvez não seja a intenção, me agradaram muito por ajudar a imaginar os personagens e os cenários e o responsável por elas é o Wesley Rodrigues.



"Os portões da cidade são de madeira coberta com folhas de metal, e quando se abrem eles se assemelham com as entranhas de seus artistas, que parecem todos despertos e vivos até se atingir o centro e perceber que não são pessoas de verdade, mas esqueletos de armadura com um humano ao redor." (pág. 164)
   
   Na história, temos como personagem principal a Boss, e como o próprio nome sugere, ela é a chefe do circo e foi após um bombardeio no teatro em que ela se encontrava e no qual se apresentaria em uma ópera, que ela escapa dos escombros e dá vida ao personagem Panadrome usando restos do corpo do maestro e qualquer ferramenta e restos de metal que ela encontrou em meio ao destroços. Esses dois personagens são tidos como os primeiros membros do circo que será conhecido pelos leitores, porque em um momento da trama, Boss afirma que o circo existe há muito tempo mas não é dito quando realmente se originou.
   A narrativa não segue padrões, sendo escrita em primeira, segunda e terceira pessoa. Geralmente o personagem Little George é quem narra os acontecimentos em primeira pessoa. Cada capítulo é uma surpresa, se um é no tempo presente não significa que o próximo siga a mesma linha e então nos deparamos com acontecimentos passados. Por esses motivos, a leitura é um verdadeiro desafio e por mais que o livro seja curto, requer atenção. Para que essa observação não seja tida como algo negativo, já vou adiantar que a história é leve, cativante e duvido muito que os leitores não se apaixonem logo nas primeiras páginas.
   São muitos os personagens, de início fiquei apreensiva de não lembrar de todos os nomes, mas a grande maioria têm suas personalidades e histórias descritas no decorrer da trama e até aqueles que nos parecem ranzinzas e malvados, nos conquistam em um momento, à exemplo disso posso citar a Elena. Pra justificar isso, basta dizer que todos eles buscaram o circo quando já não tinham esperanças de se manter na cidade, uns sofreram mais que outros, mas todos são sobreviventes da guerra e veem no circo uma chance de encontrar abrigo, alimento e talvez alegria em proporcionar momentos de diversão às pessoas que irão assistir aos espetáculos.

"Durante toda a vida, Ying supôs que Elena fosse naturalmente cruel. Perguntava-se agora se a crueldade simplesmente surgia quando o mundo estava desabando e não havia nada mais a fazer a não ser brigar." (pág. 236)


  "Nenhum de nós tem o coração voltado para a guerra." (pág. 132)
   Boss quem dá vida à maioria dos membros do circo. As trapezistas, por exemplo possuem ossos ocos para que fiquem mais leves ao se apresentarem. Jonah possui um pulmão mecânico porque chegou ao circo carregado por Ayar e morreria de um colapso no órgão se não fosse a intervenção de Boss. Ayar por sua vez possui engrenagens e um coluna quase indestrutível, sendo por esse motivo o membro mais forte do circo. Não dá pra descrever todos os personagens porque, como já disse anteriormente, são muitos e alguns um tanto complexos.
   O ponto alto da história é quando um homem do governo assiste ao espetáculo e leva Boss consigo junto aos seus soldados, deixando o restante do pessoal temendo que ela seja assassinada. Após esse acontecimento, os membros do circo se dividem entre quem fugirá para o mais longe possível da cidade para não ser apanhados e os que permanecem para resgatar Boss e Bird, a segunda personagem mais marcante da história na minha opinião, que no momento em que vê Boss sendo levada, tenta atacar o homem do governo e falha, levando um tiro no tornozelo e sendo carregada junto.
   Não acho que seria justo falar as motivações do homem do governo, mas a partir daí temos muita tensão, algumas intrigas e uma batalha no final que é digna de adaptação cinematográfica (sim, já estou sonhando com isso).




   Se ao final de 2016 esse livro estará na minha lista dos 10 melhores do ano, eu não sei dizer, já que só falando em relação a Darkside ainda teremos lançamentos incríveis para acompanhar. Mas que esse livro é incrível e que pode nos marcar por muito tempo, não há dúvidas. Nele encontramos lições de lealdade, trabalho em equipe, cooperação e coragem. Cada personagem é importante à sua maneira, mesmo com seus defeitos expostos. Mesmo aqueles que nos parecem mais franzinos e sensíveis no início, nos mostram sua força e nos surpreendem em suas decisões nos momentos em que precisam fazer a sua parte.


"A maioria das pessoas não vive o suficiente para ver o circo duas vezes. Estes são tempos exaustivos." (pág. 34)
   
   Por fim, espero que quem tenha lido até aqui tenha gostado da resenha. Ela é a "inauguração" do blog, e o Literatura Medonha nasceu de uma vontade simples de fazer valer mais ainda minhas leituras compartilhando algumas das minhas opiniões com outros leitores. Sintam-se à vontade para comentar com críticas e sugestões, nesse início elas serão essenciais. Obrigada aos que chegaram até aqui e acompanhem o blog porque farei novas resenhas de livros de terror/suspense/ficção.