segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Trechos: Frankenstein ou o Prometeu Moderno





Título original: Frankenstein or The Modern Prometheus
Autor(a): Mary Shelley
Ano: 1818
Editora: Martin Claret
Páginas: 160


"Sinto o meu coração radiante de um entusiasmo que eleva ao céu, pois nada contribui tanto para tranquilizar a mente do que um objetivo firme: um ponto em que a alma possa cravar o seu olhar intelectual." (pág. 20)


"Ah, que alguma voz encorajadora possa responder pela afirmativa! Minha coragem e minha resolução são firmes, mas minhas esperanças são vacilantes, e meu ânimo muitas vezes se deprime." (pág. 21)


"Somos criaturas imperfeitas, incompletas se alguém mais sábio, melhor e mais caro do que nós mesmos - como um amigo deve ser - não nos ajudar a aperfeiçoar nossas débeis e defeituosas naturezas." (pág. 28)


"Apesar de abatido, ninguém pode sentir mais profundamente do que ele as belezas da natureza. O céu estrelado, o mar e cada uma das paisagens destas regiões maravilhosas parecem ter ainda o condão de elevar sua alma acima da terra. Um homem assim tem uma existência dupla: pode padecer a desgraça e ser cumulado de decepções mas, quando se retira para dentro de si mesmo, será como um espírito celestial que tem um halo ao seu redor, para dentro de cujo círculo nenhuma dor ou loucura ousa aventurar-se." (pág. 29)


"Morreu serenamente, e sua fisionomia até na morte exprimiu afeto. Não preciso descrever os sentimentos daqueles cujos mais queridos laços são desfeitos pelo mal mais irreparável, o vazio que toma conta da alma e o desespero que se exibe no rosto. É preciso tempo para a mente convencer-se de que tenha ido embora para sempre aquela pessoa que via todos os dias e cuja existência lhe parecia uma parte da sua própria - que o brilho dos olhos amados se tenha extinguido, e o som de uma voz tão familiar e querida aos ouvidos se tenha calado para sempre. São essas as reflexões dos primeiros dias; mas, quando o passar do tempo prova a realidade do mal, começa a verdadeira amargura do pesar. Mas de quem essa rude mão não desfez algum laço de afeto? E por que descreveria uma dor que todos já sentiram e têm de sentir? Chega por fim o tempo em que o pesar é mais uma indulgência do que uma necessidade; e o sorrido que brinca nos lábios, embora possa ser considerado um sacrilégio, não é expulso. (...) Temos de seguir caminho com os demais e aprender a nos considerar felizes por sermos aqueles que a saqueadora não capturou." (pág.40)


"Como é perigosa a aquisição de conhecimentos e como é mais feliz o homem que acredita que sua cidade natal é o mundo inteiro do que o que aspira a ir além do que a sua natureza lhe permite." (pág. 46)


"Os diversos acidentes da vida não são tão mutáveis como os sentimentos da natureza humana." (pág. 49)


"Chorem, infelizes, mas essas não são suas últimas lágrimas! Mais uma vez erguerão o lamento fúnebre, e o som de suas queixas se fará ouvir sempre novamente!" (pág. 72)


"Nada é mais doloroso para a mente humana do que, depois da exacerbação dos sentimentos por uma sucessão de fatos, a paz defunta da inação e da certeza que se segue e tira da alma a esperança e o medo." (pág. 73)


"We rest; a dream has power to poison sleep.
We rise; one wand'ring thought pollutes the day.
We feel, conceive, or reason; laugh or weep,
Embrace fond woe, or cast our cares away;
Is it the same: for, be it joy or sorrow,
The path of its departure still is free.
Man's yesterday may ne'er be like his morrow;
Nought may endure but mutability!"

"Descansamos; um sonho tem o poder de envenenar o sono.
Levantamo-nos; um pensamento vagabundo polui o dia.
Sentimos, concebemos ou raciocinamos; rimos ou choramos, 
Abraçamos a amorosa dor ou repelimos nossas preocupações;
É o mesmo: pois, seja alegria ou tristeza,
O caminho de saída continua livre,
O ontem do homem talvez nunca seja como o amanhã;
Nada persiste, salvo a mutabilidade!"
(Mutability, Mary Shelley)


"Espíritos vagabundos, se de fato vigiais e não repousais em vossos estreitos leitos, permite-me esta tímida felicidade ou levai-me como vosso companheiro para longe das alegrias da vida." (pág. 79)


"A vida, embora possa ser só um acúmulo de angústias, me é cara, e vou defendê-la! (...) Em toda parte vejo contentamento, do qual só eu estou irrevogavelmente excluído. Eu era benevolente e bom; a desgraça transformou-me num demônio. Faze-me feliz, e tornarei a ser virtuoso." (pág. 80)


"Seria o homem tão poderoso, tão virtuoso e magnífico, mas também tão mau e vil? Ora ele parecia um mero rebento do princípio do mal; ora tudo o que se pode imaginar de nobre e santo. Ser um grande homem, cheio de virtude, parecia a mais alta honra que um ser sensível possa alcançar; ser vil e mau, como muitos o foram na História, parecia a pior degradação, uma condição mais abjeta que a da cega toupeira ou do inofensivo verme. Por muito tempo, não conseguia entender como um homem podia conseguir chegar a matar seu semelhante ou mesmo por que havia leis e governos; mas, quando ouvi pormenores dos vícios e das carnificinas, minha admiração cessou, e eu me afastei com repulsa e pesar." (pág. 94)


"Que estranha é a natureza do conhecimento! Gruda-se à mente quando o adquirimos como o líquen à rocha. Às vezes desejava livrar-se de todos os pensamentos e sentimentos, mas aprendi que só havia um modo de superar a sensação de dor: a morte, um estado que eu temia, embora não entendesse." (pág. 94)


"Tudo, menos eu, estava em repouso ou em alegria; eu, como o arquidiabo, carregava um inferno dentro de mim e, vendo-me repudiado, queria arrancar as árvores, espalhar a ruína e destruição ao meu redor e então me sentar e gozar dos destroços." (pág. 105)


"As fadigas que suportei não seriam mais aliviadas pelo brilho do sol ou pela doce brisa da primavera; toda a alegria não passava de um escárnio que insultava a minha desolação e me fazia sentir mais doloridamente que eu não fora feito para o gozo do prazer." (pág. 109)


"Eu fora criado para a felicidade tranquila. Durante a juventude, a insatisfação nunca visitou a minha alma, e se às vezes o tédio tomava conta de mim, a vista do que é belo na natureza ou o estudo do que é excelente e sublime nas obras do homem sempre podiam interessar o meu coração e comunicar elasticidade ao meu ânimo. Mas sou uma árvore atingida pelo raio que penetrou na minha alma; e eu sentia então que devia sobreviver para mostrar o que logo deixarei de ser - um miserável espetáculo de humanidade destroçada, lamentável para os outros e intolerável para mim mesmo." (pág. 122)


"Mas ele descobriu que a vida do viajante tem muita dor misturada às alegrias. Seus sentimentos estão sempre no limite, e, quando começa a repousar, se vê obrigado a abandonar aquilo sobre o qual repousa em paz, em troca de algo novo, que chama a sua atenção e que ele também abandonara por outras novidades." (pág. 123)


"Como são mutáveis os nossos sentimentos, e como é estranho o teimoso amor à vida que temos até no cúmulo da desgraça!" (pág. 130)


"Meu coração foi feito para ser sensível ao amor e à compaixão e, quando a miséria o distorce para o mal e o ódio, não suporta a violência da mudança sem uma tortura que não podes sequer imaginar." (pág. 164)


"Não busco, porém, um companheiro que se compadeça da minha desgraça. Jamais poderei fazer com quem alguém participe dos meus sentimentos. Quando busquei isso pela primeira vez, o que gostaria de compartilhar era o amor da virtude, os sentimentos de felicidade e afeto de que todo o meu ser transbordava. Agora, porém, que essa virtude se tornou para mim uma sombra, e essa felicidade e esse afeto se transformaram num desespero amargo e abominável, em que buscaria eu simpatia? Contento-me em sofrer sozinho enquanto os sofrimentos ainda persistem; quando eu morrer, fico feliz em pensar que o ódio e o opróbrio preencherão a minha memória. Antigamente, a minha imaginação se regalava com sonhos de virtude, de fama e de alegria. Antes eu esperava falsamente encontrar pessoas que, perdoando a minha forma exterior, me amassem pelas excelentes qualidades que eu fosse capaz de revelar. Nutria altos ideais de honra e devoção. Hoje, porém, o crime me degradou abaixo do mais vil animal. Não há culpa, vileza, malignidade, miséria que possa comparar-se à minha. Quando percorro o aterrador catálogo dos meus pecados, não consigo acreditar que eu seja a mesma criatura cujos pensamentos eram repletos de sublimes e transcendentes visões de beleza e da majestade do bem. Mas assim é; o anjo caído torna-se um diabo maligno. No entanto, mesmo o inimigo de Deus e do homem tem amigos e companheiros em sua desolação; eu estou só." (pág. 165)

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