segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Trechos: O Médico e o Monstro



Título original: The Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde
Autor(a): Robert Louis Stevenson
Ano: 1886
Editora: Martin Claret
Páginas: 56


"Sucederam-se transes da maior angústia: ranger dos ossos, náuseas mortais, e o tormento do espírito que está para nascer ou morrer. Depois, essas agonias tornaram-se subitamente menores e voltei a mim como quem convalesce de uma doença. Havia algo de novo nas minhas sensações, algo de novo e indescritível que, pelo seu ineditismo, era incrivelmente agradável. Sentia-me mais novo, mais leve, mais bem disposto, e experimentava, no meu íntimo, uma impetuosa ousadia; desenrolava-se, na minha fantasia, desordenadas imagens sensuais, vertiginosamente; desfaziam-se os vínculos morais e se mostrava agora uma liberdade da alma que, entretanto, não era inocente. Considerei-me, desde o primeiro sopro da minha nova existência, de ânimo mais perverso, dez vezes mais iníquo, reintegrado na maldade original; e esse pensamento, naquela hora, prendia-me e deliciava-me como um vinho." (pág. 211)


"Era preciso escolher entre os dois. As minhas duas naturezas possuíam memória comum, mas outras faculdades comportavam-se de forma desigual. Jekyll, o ser composto, às vezes com bastante apreensão, às vezes com um desejo impetuoso, projetava e compartilhava dos prazeres e das aventuras de Hyde. Mas Hyde era indiferente a Jekyll (...) Entregar a minha sorte na carcaça de Jekyll era estrangular todos esses apetites que eu havia secretamente acariciado durante tempos e de que começava agora a regular-me. Confinar-me no esqueleto de Hyde era morrer para milhares de aspirações e interesses espirituais e ficar, para sempre, tombado no opróbrio, sem uma única amizade. O negócio parecia desigual; mas havia ainda outra coisa a considerar no equilíbrio da balança: enquanto Jekyll sofreria pungentemente as torturas da abstinência, Hyde não teria consciência do que havia perdido." (pág. 215)

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